segunda-feira, 25 de maio de 2009

A incomensurabilidade e a comunidade docente


Thomas Kuhn (na foto) diz que teorias diferentes são incomensuráveis entre si. Isso significa que não há diálogo possível entre autores que se situam em paradigmas diferentes, pois a linguagem de cada paradigma é tão específica que (vamos para um exemplo da Linguística para aliviar) noções como "texto", "frase", "discurso", "leitura", etc. para um paradigma possui significado diferente para o paradigma rival. Ou seja, o que é leitura para mim pode não ser exatamente o que é a leitura para o outro e isso torna impossível uma comunicação racional.

Durante a formação na graduação, todos nós passamos por diversos professores, cada um falando de dentro de um paradigma, e, no final, sem consciência disso, somos um produto de uma grande "salada". Isso sem contar dos paradigmas da área da Educação que se misturam e se confundem com os de língua e literatura.

Nas reuniões de professores, portanto, cada um fala uma coisa e, salvo uma coincidência muito rara, ninguém se entende efetivamente, pois cada um está no seu paradigma.

O Gestar II é interessante por causa disso: ele parte de um único paradigma, socioconstrutivista, e todos vamos ter de aprender a falar a mesma língua. Há sempre um norte, o material, mas nunca uma camisa de força. Temos autonomia, que é estimulada por mim também, enquanto formador, mas dentro do paradigma comum a todos.
Aliás, somos mesmo uma comunidade não necessariamente científica de que falava Kuhn, mas docente. É realmente fundamental estarmos em um mesmo paradigma.

A primeira oficina



No dia 20 de maio, fizemos a primeira oficina do Gestar II em Igrejinha. Estamos com dois grupos: um faz o curso às quartas-feiras pela manhã (na foto) e o outro o faz pela tarde.


No primeiro encontro, os cursistas receberam o material (os 19 livros) e eu mostrei como o material se organiza. Acho que o pessoal gostou, pois está de acordo com o que nós acreditamos em Igrejinha sobre o ensino de Língua Portuguesa.


Falei do projeto e do blog, como disse uma cursista, em doses homeopáticas, e parece que não há mais alarde, nem pessimismos. Tenho orgulho do meu grupo. Estão sendo receptivos à ideia.


Falei nesse primeiro encontro sobre a importância de falarmos "a mesma língua". Para isso, trouxe a incomensurabilidade de Thomas Kuhn (A estrutura das revoluções científicas). Veja acima.

Tempo de mudança




ABERTURA DO GESTAR II – IGREJINHA/RS

Primeiro, quero dizer que é uma honra ser professor-formador de Igrejinha. Como já conheço grande parte do grupo, posso dizer que é especialmente importante ser o formador aqui por dois motivos. Primeiro, porque nessa cidade já se pode dizer que a formação continuada é tradição. Todos que trabalham no município estão em constante aperfeiçoamento porque há políticas públicas municipais para isso acontecer. Segundo, porque é um grupo bastante agradável, em que eu encontro muitas das minhas amizades que vão além da simples relação de trabalho. Isso tudo me impõe uma responsabilidade que assusta e me move. Então, antes de comentar a mensagem, que ficou por minha conta, quero agradecer a confiança depositada em mim e declarar a minha grande preocupação em atender às expectativas que sei que existem em torno desse grande projeto do qual todos nós fazemos parte, bem como me sujeitar à avaliação e às críticas que porventura vierem a surgir. Críticas que eu me comprometo a respeitar e que vão me fazer repensar minhas práticas da mesma forma que eu e a Sandra vamos querer que nossas discussões sejam sempre levadas em conta para o planejamento de cada um de vocês.
Mas, então, vamos à mensagem: É clichê falar em mudança para professores, e, em geral, é para nos acusar de estagnação, de ficarmos parados no tempo. Mude suas práticas! Como se nós fizéssemos sempre a mesma coisa. O mundo mudou, mas a escola não mudou com ele… Será?! Mudar, a escola mudou, mas que mudança é essa? Mude a forma de trabalhar com seus alunos: eles vão gostar mais! (?!) Eu, particularmente, acho muito perigoso esse ideal de que tudo precisa ser mudado, de que nada do que se tem feito presta. Mas, lamentavelmente, é isso que parece estar por trás desse discurso de mudança.
Se nos exigem mudança, é porque pressupõem que nós não estamos bem o suficiente. Não vamos ser ingênuos e não enxergar isso. Há uma boa parte da sociedade com uma preocupação e uma dedicação impressionantes de nos desvalorizar. Isso, ridiculamente, é verdade. Isso é ridículo, afinal, é a nossa profissão o que há de mais valioso num país. E se há uma verdade inquestionável é que um país, um estado , um município se desenvolvem apenas se investir em educação.
No entanto, também não vamos ser tolos de achar que não precisamos mudar. Não porque não fazemos direito ou porque não estamos no caminho certo. Nem vamos mudar apagando o que temos feito. Também a mudança não deve ser alienada: vem alguém diz para nós o que devemos fazer e nos diz que esse é o certo e pronto. O Gestar II definitivamente não é isso!
Então, o que é mudar? Por que mudar? Como mudar? O que mudar?
O dicionário Houaiss diz que mudar é “deslocar de posição”. Vamos nos colocar novamente na condição de alunos, inclusive eu e a Sandra (porque aqui somos formadores, mas, ao mesmo tempo, somos alunos do grupo responsável da UnB). Deixar um pouco de lado a segurança de professores para questionar se não há realmente outras formas de encarar a sala de aula na humilde e nobre posição de estudantes. Mudar é também “transferir(-se) para outro local” e vamos nos deslocar para outros lugares, juntos, de preferência. Vamos até o não-espaço ou o todoespaço: a internet. É “dar outra direção a” e isso é fundamental na atividade intelectual que exercemos. Não por estarmos fazendo algo errado, mas porque temos consciência da irrepetibilidade de nossas ações. Enfim, mudar é “arrumar de outro modo; dispor em outra ordem; recombinar”. É o que vamos fazer com nossa atividade profissional. Recombinar nosso conhecimento e nossa prática é consequência necessária do estudo que vamos fazer.
Aliás, isso responde à pergunta “por que mudar?”. Não mudamos porque estamos fracassando, mas mudamos porque somos inteligentes e mudar é sinal de inteligência. Mas não vamos mudar tudo, nem queremos. Então, repito: como mudar? Vamos mudar através do estudo. Vamos estudar muito, e juntos. Eu e a Sandra vamos ter o privilégio de possuir horários para estudar, para preparar um suporte teórico e didático para auxiliar a vocês, enquanto vocês terão o privilégio de ter alguém, com experiência na área, para auxiliar no planejamento e na aplicação de suas práticas.
Como diz a mensagem, então: Mudar a si mesmo para mudar o outro. As coisas acontecem muito rápido. O mundo precisa de nós. E nós não temos limites, nem distâncias. Faça a sua parte. Imaginar, sonhar, desejar, concretizar. Transforme as dificuldades em oportunidades. Semeie. Com ousadia. Estude. Se faça presente. Proteste, mas evolua. Há muita coisa que pode ser mudada, sim. Mas não desista. Lute ainda mais. Domine seus medos.
Só falta agora saber o que vamos mudar. Isso eu também não sei. Só posso dizer que vamos descobrindo isso ao longo do ano, juntos, através de muito estudo, de muito diálogo e de muita negociação, compartilhando experiências, dúvidas, saberes, angústias, leituras e tudo mais que o estudo conjunto exige e proporciona.

Obrigado novamente pela atenção e pela confiança e sucesso a todos.

Cassiano Ricardo Haag

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Lançamento do Programa Gestar II em Igrejinha

No dia 18 de maio, com um coquetel na Escola Municipal Vila Nova, às 18h30, fizemos o lançamento do Programa Gestar II em Igrejinha. Na abertura, a Secretária de Educação, Liége Lana Brusius, falou com propriedade sobre a importância do Gestar e da formação de professores. em seguida, mostramos uma mensagem que falava sobre MUDANÇA e eu fui encumbido de comentar a mensagem (veja o texto abaixo). A Flávia (coordenadora pedagógica do Gestar II em Igrejinha) apresentou a estrutura do projeto e, por fim, a Sadra (Formadora de Matemática) falou sobre a importância de não se estar sozinho no exercício docente, daí a relevância do Gestar.